Baseado e adaptado do livro HowWe Decide, do Neurocientista Johan Leher. Tradução livre.
As grandes descobertas da Neurociência para o desenvolvimento humano estão associadas ao estudo do cérebro enquanto atua da melhor possível, e assim tomar as decisões mais acertadas e promover felicidade. Para ampliar a compreensão da importância das emoções na tomada de decisão eficaz, vamos a mais um exemplo. O neurocientista Antônio Damásio, no ano de 1982, atendeu um paciente chamado Elliot, que havia se submetido a uma cirurgia relativamente complexa, mas sem maiores riscos se bem executada: a retirada de um pequeno tumor no lobo frontal (acima dos olhos). A cirurgia foi considerada um sucesso pelos médicos e cumprido o período pós-operatório, Elliot seguiu para casa. Desde então, sua vida se tornou impossível. Elementos de rotina que envolviam escolhas e não levavam mais do que alguns segundos para serem executadas se tornaram conflitos sem solução que ocupavam todo o dia de Elliot: sair de casa portando uma caneta azul ou preta? Qual estação de rádio ouvir? Onde estacionar o carro? Onde almoçar? Onde sentar? Devo ir a cada lugar e ver a lotação do restaurante antes? Qual o melhor esquema de luz do ambiente? Em pouco tempo, Elliot perdeu sua família, seu emprego, sua vida. Voltou a morar com os pais e continuou a não conseguir tomar decisões, mesmo as mais simples. Damasio questionava-se acerca do que teria acontecido ao cérebro de Elliot, pois o conhecimento cerebral daquela época não relacionava o lobo frontal com tomada de decisão.
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Durante um teste de controle de emoções (parecido com aquele que as polícias americanas usam como detectores de mentiras), Elliot foi exposto a uma série de imagens que, de maneira geral, causam fortes emoções no sujeito que as vê. Durante o teste, Damasio pôde perceber que Elliot se mantivera sem expressar QUALQUER EMOÇÃO mesmo diante das imagens mais repugnantes, violentas ou sensuais. "Ele estava sempre controlado", pensou Damasio. Mesmo diante de seu drama pessoal, Elliot nunca demonstrou tristeza, compaixão, dor ou desespero. Ele havia se tornado um espectador não envolvido de sua própria vida. Não havia qualquer senso de sofrimento. Diante dessa constatação, surgiu uma surpresa. A tradição científica dizia que, se emoções são irracionais, seremos melhores tomadores de decisões se não nos influenciarmos pelas emoções. Na verdade, este se tornou o lugar comum da crença popular: bons tomadores de decisão são sujeitos extremamente "racionais". Entretanto, o que se observou foi que as emoções são cruciais para a tomada de boas decisões. A surpresa reside em constatar uma contradição fundamental em toda a tradição científica, que considerou negativa a influência das emoções no processo de tomada de decisão. Mas, mesmo constatando que estávamos errados sobre o que pensamos a respeito do papel das emoções na tomada de decisão, ainda precisamos de uma explicação para compreender o protagonismo das emoções no processo decisório. Essa explicação vem da história evolutiva do cérebro.
Os cientistas costumam explicar a anatomia do cérebro da seguinte forma: na sua base está o tronco cerebral, o qual governa as mais básicas funções corporais. Batimentos cardíacos, respiração, temperatura corporal. Acima está o diencéfalo, o qual regula os ciclos do sono e ânsia da dor. Então vem a região límbica, a qual governa as emoções animais. É a fonte do desejo sexual, da violência, dos comportamentos compulsivos, etc. Compartilhamos esses cérebros com todos os outros mamíferos. Finalmente, há o magnífico córtex frontal - a obra-prima da evolução - responsável pela razão, inteligência e moral. Permite resistir às urgências e suprimir emoções. Ou seja: o último cérebro pode ignorar os outros três. Somos a única espécie hábil a se rebelar contra sentimentos primitivos e tomar decisões totalmente sem paixão. Mas essa narrativa anatômica é falsa. A expansão do córtex frontal durante a evolução humana não nos tornou criaturas puramente racionais, hábeis a ignorar nossos impulsos. De fato, a neurociência agora sabe que o oposto é verdadeiro: uma parte significativa de nosso córtex frontal é emocional.
E como funciona o sistema emocional do cérebro? O córtex orbitofrontal, a parte perdida do cérebro de Elliot, o paciente do Dr. Antônio Damásio, é responsável por integrar emoções viscerais no processo de decisão. Ele conecta os sentimentos gerados pelo cérebro "primitivo" - áreas como o tronco cerebral e a amigdala, a qual está no sistema límbico, na corrente de pensamentos conscientes. Quando uma pessoa é apresentada a um estímulo qualquer, a sua mente está tentando lhe dizer que ela deveria escolher esta e não aquela opção. Ela, a mente, já avaliou as alternativas - e essa análise é feita fora da consciência - e convertida à conclusão em uma emoção positiva. E quando o sujeito encontra uma situação desagradável - como o cheiro de uma comida que lhe causa náuseas, por exemplo - é o seu córtex orbito frontal que o faz querer afastar-se (emoção e motivação têm a mesma raiz semântica latina, movere, que significa mover).
O mundo é cheio de coisas interessantes e repugnantes, e são as nossas emoções que nos ajudam a escolher entre elas. Quando essa conexão neural está avariada e o córtex orbito frontal não pode compreender emoções, perdemos o acesso privilegiado à riqueza de opiniões emocionais sobre os eventos do mundo que normalmente nos orientam. Repentinamente, você está incapacitado a tomar decisões decentes. Essa é a razão do córtex orbito frontal ser uma das poucas partes do cérebro que é maior em humanos do que em outros primatas. Da perspectiva do cérebro humano, o homo sapiens é o animal mais emocional que existe. Mas por que nossas emoções são tão essenciais? Porque elas são tão boas para achar a melhor solução? De fato, leva um bom tempo para se desenhar um cérebro. Os primeiros compostos de redes neurais apareceram há mais de cinco milhões de anos. Desde então, os cérebros primitivos aumentaram incrivelmente a sua complexidade. Eles se expandirão de alguns milhares de neurônios para centenas de bilhões no mundo dos primatas. Quando o homo sapiens surgiu, há cerca de 200 mil anos, o planeta já estava cheio de criaturas com cérebros especializados. Peixes, pássaros, insetos. As características cognitivas de cada um eram todas produtos de instintos que tinham sido desenvolvidos pela seleção natural para performar em atividades específicas. No entanto há inúmeros erros de concepção e "bugs" no software. É por isso que qualquer calculadora barata fará uma conta de aritmética mais rapidamente do que um matemático profissional. O cérebro emocional, ao contrário, vem sendo testado pelas últimas centenas de milhões de anos. O seu equipamento foi exaustivamente testado, por isso é capaz de tomar decisões baseadas em pouca informação.
O processo de pensamento requer emoção, e sentimentos são o que nos deixarão entender toda a informação que não podemos diretamente compreender. Como pudemos aprender com o caso Elliot, a razão, sem a emoção, é impotente. Diante destes fatos, sugiro que você se conecte com suas emoções e observe os resultados alcançados, utilizando mais o seu cérebro emocional. Quem sabe o seu sucesso não está mais próximo do que você imagina, bastando para isso permitir que algumas escolhas sejam feitas a partir das emoções que as experiências da vida te proporcionam? Confie em suas emoções, acredite nas suas intuições e permita-se ser mais emocional no seu processo de tomada de decisão. Desde a escolha da carreira, quanto um eventual "chute" em uma questão da prova, as emoções foram desenvolvidas para te ajudar a tomar decisões mais eficazes.
Flávio Ribeiro de Paiva é Psicólogo formado pela UFRGS, Personal e Professional Coach pelo Behavioral Coaching Institute - New York, através da Sociedade Brasileira de Coaching - São Paulo. Está vinculado a outros grandes institutos de Coaching e Desenvolvimento humano no Brasil e no exterior e possui larga experiência pessoal de sucesso em provas e concursos de diversos órgãos, como Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, TRF-4 e Polícia Rodoviária Federal.
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