A partir de janeiro de 2025, uma má notícia para beneficiários do Programa Bolsa Família. O programa social passará por cortes no orçamento e terá novos pente-finos recorrentes para revisar cadastros e combater irregularidades, visando diminuir o custo mensal da folha de pagamentos.

Esse movimento faz parte da estratégia do governo para se adequar à proposta orçamentária de 2025, que prevê um corte de R$ 2,3 bilhões no orçamento do Bolsa Família em relação a esse ano. O valor destinado ao programa cairá dos atuais R$ 168,6 bilhões para R$ 166,3 bilhões em 2025.

O governo diz que pretende focar, mais uma vez, em revisar as chamadas famílias unipessoais - compostas por apenas uma pessoa - e na atualização dos dados do Cadastro Único (CadÚnico), que concentra informações sobre os beneficiários de programas sociais. Isso deve fazer novos cortes para quem não atende as regras propostas.

Impacto nas Famílias Unipessoais

Atualmente, o Bolsa Família atende 20,76 milhões de famílias, com um repasse mensal na ordem de R$ 14,1 bilhões. Dentre esses beneficiários, mais de 4 milhões são famílias unipessoais, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

Essas famílias têm sido alvo de críticas e levantamentos de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU), que alertou para inconsistências no CadÚnico. De acordo com a legislação, o cadastro deve ser atualizado a cada 2 anos, sob pena de exclusão do programa. Muitos beneficiários estão há mais de quatro anos sem atualizar suas informações.

Especialistas e defensores dos direitos sociais, como Leandro Ferreira, presidente da Rede Brasileira de Renda Básica (RBRB), apontam que a revisão focada em famílias unipessoais pode gerar criminalização indevida de beneficiários. "A herança do auxílio emergencial criou a percepção de que essas pessoas estavam explorando o sistema, mas é preciso lembrar que o governo permitiu dois benefícios por família durante a pandemia", explica Ferreira.

Já a professora Aldaíza Sposati, da PUC-SP e diretora da RBRB, critica a decisão do governo de centrar o pente-fino nesse grupo, considerando-a "perversa". Segundo ela, o perfil dessas famílias unipessoais é majoritariamente composto por mulheres negras, com mais de 60 anos, que trabalharam na informalidade e não têm direito à aposentadoria.

Revisões e exclusões

Desde 2023, o MDS tem intensificado as revisões no Bolsa Família, suspendendo pagamentos para 1,7 milhões de famílias que recebiam o benefício indevidamente. O governo justifica que essas ações são necessárias para garantir que os recursos sejam direcionados às pessoas que realmente precisam.

A fila de espera para inclusão no Bolsa Família conta com 416 mil cidadãos elegíveis que ainda não foram contemplados. Nos últimos anos, a fila chegou a ultrapassar 2 milhões de pessoas.

Quem tem direito

Para receber o Bolsa Família, a família deve ter uma renda mensal por pessoa de até R$ 218. O benefício não é automático, sendo necessário se cadastrar no CadÚnico.

A proposta de 2025 sugere que, além do pente-fino, o governo também realizará novas ações de busca ativa para incluir famílias vulneráveis no programa.

Há ainda a chamada regra de proteção, que garante o pagamento de 50% do benefício para quem ultrapassar a renda mínima de R$ 128 per capita, desde que fique até R$ 706 per capita. Elas recebem metade do benefício por até 24 meses.

A família que superar a renda per capita mensal de R$ 706 é desligada do Programa.

O valor do Bolsa família é definido da seguinte forma:

  • Benefício de Renda de Cidadania, no valor de R$ 142,00 por integrante, destinado a todas as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família;
  • Benefício Complementar, que garante uma parcela mínima de R$ 600,00;
  • Benefício Primeira Infância, no valor de R$ 150,00 por crianças com idade entre 0 e 7 anos incompletos;
  • Benefício Variável Familiar, no valor de R$ 50,00 para gestantes; nutrizes; crianças com idade entre 7 e 12 anos incompletos; ou adolescentes, com idade entre 12 e 18 anos incompletos.