Ao longo de 2022 a inadimplência cresceu significativamente no Brasil, ou seja, cada vez mais pessoas estão deixando de pagar suas contas em dia pelos mais variados motivos, e se tornando, assim, endividadas.

Segundo os dados mais recentes do Serasa, já são mais de 68 milhões de pessoas nessa situação hoje e o valor médio por pessoa devido é de R$ 4,3 mil. Esse valor, porém, também vem subindo. E essas pessoas juntas possuem mais de R$ 295,7 bilhões em dívidas por pagar.

Entre essas contas atrasadas, muitas delas são de faturas de cartão que não estão sendo pagas em dia. E esse é um verdadeiro problema para a saúde financeira das famílias e do país porque esses juros são os mais caros do Brasil hoje.

Se você faz parte desse grupo ou quer entender o momento atual, continue a leitura.

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A conta não bate, a gente sabe

E o problema é que os tempos são difíceis mesmo. A inflação está alta, acumulando 6,47% ao ano nesse momento, mas até pouco tempo atrás chegava a 10% ao ano. E como consequência temos uma perda muito grande do poder de compra das famílias, especialmente aquelas que ganham menos de 5 salários mínimos por mês - a maioria.

Além disso, o salário mínimo não acompanha. Atualmente ele está em R$ 1.212 e a previsão é de que para 2023 ele chegue a R$ 1.302,00, mas isso está longe de ser o necessário. Segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo ideal para uma família de 4 pessoas - 2 adultos e 2 filhos - deveria ser de R$ 6.388,55 hoje.

O resultado disso é que as famílias acabam recorrendo aos cartões de crédito, mesmo sabendo que talvez não possam pagá-lo depois e, para se ter uma ideia, em outubro de 2022, a média anual dos juros rotativos desses cartões ficou em 399,5%, segundo dados do Banco Central.

Isso dá cerca de 33,2% por mês de juros, ou seja, se você tem uma dívida de R$ 1 mil e não conseguir pagá-la, ela se transformará em uma dívida de mais de R$ 1,3 mil apenas em 30 dias. R$ 332 reais a mais de contas a serem pagas, é o que você terá.

Então é preciso muito cuidado. Evitar uma dívida ou, se ela já existe, trabalhar para sair dela, é muito importante e estamos aqui pra tentar te ajudar. Por isso, abaixo, confira algumas dicas básicas de cuidados.

Como evitar o endividamento?

Veja abaixo algumas dicas de como evitar o endividamento com o cartão de crédito:

1. Controle seus impulsos

Essa dica parece óbvia e você com certeza já a ouviu em algum lugar, mas ela é importante. Comprar por impulso é uma atitude muito comum. Todos nós fazemos isso eventualmente e sabemos que a sociedade é consumista, a gente aprende a querer muitas coisas, então quando temos a possibilidade de postergar o pagamento, essas gastos podem facilmente sair do controle.

Faça um exercício: se permita pensar por algumas horas ou mesmo por um dia a respeito da compra e perceba se trata-se de algo que realmente precisa. Na maior parte dos casos você verá que não.

2. Faça listas de compras

Fazer listas de compras ajuda a nos atermos somente ao que realmente precisamos. E isso vale principalmente para as idas ao mercado, mas não apenas. Assim, evitamos comprar coisas que talvez não sejam tão necessárias e às vezes até produtos que você já tem, o que pode resultar em desperdício e perda de dinheiro. Ah, e claro, nunca vá ao mercado com fome, né? Você já deve ter ouvido isso de alguém e é muito real. Você vai gastar mais.

3. Veja as condições de compra antes de usar o cartão

Verifique se não há a possibilidade de um bom desconto no pagamento à vista, por exemplo. Dependendo da compra isso pode valer muito a pena. Também verifique se os júuros não aumentam excessivamente com o aumento número de parcelas - normalmente, sim - e estude se você não pode pagar em menos vezes. Além disso, mantenha sempre o controle das contas que você já está parcelando para não formar aquela bola de neve que já citamos.

4. Estabeleça um valor máximo de gastos com o cartão

Cartão de crédito não é renda complementar, tudo o que você compra, você terá que pagar com o que você ganha, portanto, nunca deixe que a sua fatura passe de um determinado valor que você mesmo pode estabelecer tendo como base o que você ganha e quais os demais gastos que você tem por mês (aluguel, água, luz, internet, etc).

5. Não tenha muitos cartões de crédito

Se possível, use um cartão apenas - concentre seus gastos nele - e tenha, no máximo, mais um para uso eventual. Isso ajuda a manter o controle dos gastos, a evitar atrasos nos pagamentos de faturas, entre outros problemas.

6. Nunca atrase a fatura e evite parcelar

Atrasar o pagamento da fatura fará com que você caia no juro rotativo. E essa é sempre a pior opção. Se você perceber que não terá como pagar a sua fatura na íntegra, a melhor opção ainda é entrar em contato com o seu banco e solicitar o parcelamento antes de cair no rotativo.

Ainda assim, porém, isso deve ser evitado ao máximo porque o parcelamento também tem seus juros, ainda que eles sejam um pouco mais baixos do que o do rotativo. Como já dissemos, o juro do rotativo é o mais alto que há. Em alguns casos você terá que pagar três vezes o valor da sua dívida. Evite totalmente essa situação.

7. Seja organizado

Anote os seus gastos, tenha uma planilha de controle, uma agenda, um bloco de notas, etc - ferramenta para isso é o que não falta. É importante que você visualize os seus ganhos e os seus gastos porque assim você tem um controle maior da situação e conseguirá cortar o que for menos necessário, ou focar naquilo que é realmente importante.

8. Defina metas para o futuro

Uma boa forma de evitar compras por impulso ou o uso excessivo do cartão é tendo metas. Faça planos, trace roteiros para alcançar seus objetivos. Isso ajuda muitas pessoas a poupar dinheiro e pensar melhor antes de gastar.

9. Tenha uma reserva de emergência

Na medida do possível, guarde um dinheiro em uma conta com um bom rendimento, que você possa usar numa emergência real. Isso evita que você tenha que utilizar o cartão de crédito para fazer uma dívida muito grande. Quando essa dívida se somar aos outros gastos que você já tem no cartão pode acontecer de você não conseguir pagá-la ou ter que parcelá-la. Nessas horas, uma reserva de emergência pode te salvar.

10. Use cartões sem taxas

Há muitas opções de cartões de crédito e débito que não cobram anuidade ou outras taxas, especialmente entre os bancos digitais. Qualquer gasto a menos é válido, não é mesmo?

11. Acompanhe a sua fatura

Outra boa forma de diminuir os gastos é dar uma conferida na fatura, uma vez por dia ou algumas vezes por semana ao menos, dependendo do quanto você usa seu cartão.

Quando a gente adquire o hábito de passar o cartão para fazer nossas compras, algumas vezes podemos até "esquecer" que estamos gastando. Como você não paga na hora, fica aquela sensação de que não houve muito gasto. Entretanto, se você der uma olhada na fatura com frequência, vai conseguir ver melhor o que você já comprou, quanto terá pra pagar no próximo mês e em muitas situações você provavelmente vai dar uma freada nos gastos.

Já estou com uma dívida. Como sair dela?

Mas às vezes não há o muito o que fazer, não é mesmo? O momento é difícil e quando você viu, já havia contas em atraso. Essa é sempre uma situação complicada, mas é possível sair do ciclo de endividamento.

Abaixo listamos também algumas dicas pra você, se esse for o seu caso.

1. Organize-se

O primeiro passo é entender o que está acontecendo, saber qual o valor de sua dívida, ver o que você ganha, quais são todas as suas despesas fixas e variáveis e ver o que pode ser cortado. Mais uma vez: coloque tudo no papel, visualize seus ganhos e gastos e sua situação atual.

2. Pare de usar o cartão

Se for possível, deixe-o de lado, pelo menos por um tempo. Não tente emitir novos cartões também (ao contrário, diminua a quantidade deles).

3. Tente negociar a dívida

Sabendo o que você deve e o que você ganha, você saberá quanto você pode comprometer do seu orçamento para quitar a dívida, então pode ser uma boa ideia procurar a operadora do cartão e tentar renegociar a dívida. Você pode, inclusive, fazer uma contraproposta se a proposta que ela te fizer for alta.

Mas fique atento para alguns detalhes:

  • opte por parcelas fixas, ainda que ofereçam parcelas que aumentam conforme o prazo de pagamento, pois essa segunda opção tende a ter juros maiores;
  • solicite o Custo Efetivo Total (CET), para que você saiba exatamente o que está sendo pago: o valor da dívida, os juros, as taxas, os impostos etc.

4. Se for o caso, faça um empréstimo para pagar o cartão

Sim, pode parecer incoerente querer saldar uma dívida contraindo outra, mas dependendo da sua situação, essa pode ser uma alternativa porque, como já dissemos, os juros do cartão de crédito são muito altos. Você pode encontrar taxas de juros de emprestimos bem menos salgadas.

O que acontece se eu não não pagar a dívida?

De uma forma geral, a principal consequência para quem atrasa uma dívida de cartão de crédito é ter o nome negativado.

Quando você não paga a fatura no prazo, o banco ou instituição financeira pode incluir o seu CPF na lista de inadimplentes dos órgãos de proteção ao crédito, como a Serasa.

Ou seja: com o nome negativado você terádificuldades para conseguir liberação de empréstimos, financiamentos, parcelamentos em lojas e novos cartões de crédito.

Posso conseguir um novo cartão de crédito ou financiamento depois da dívida caducar?

De acordo com o Artigo 206 do Código Civil, após cinco anos, os bancos, recuperadoras ou empresas de negociação de crédito não podem continuar cobrando a sua dívida. Sendo assim, depois deste período, é possível dizer que a dívida "caducou".

Mas, então, com o nome fora do banco de negativados, você consegue um novo cartão de crédito?

Em geral, a resposta é não. Isso porque, mesmo com a dívida não podendo ser cobrada, ela continua registrada no banco de dados das instituições financeiras. Especificamente, uma dívida caducada continua existindo em dois locais:

  • No SCR (Sistema de Informações de Crédito) do Banco Central, sempre mostrada como prejuízo;
  • Nos sistemas internos das instituições financeiras.

Esse cenário dificulta e muito a aprovação de um novo cartão de crédito ou modalidades de empréstimo, pois durante a consulta as empresas ainda conseguem verificar informações do Banco Central.

Além disso, o fato de não quitar a sua dívida traz outros prejuízos, como:

  • Relacionamento comprometido com as empresas;
  • Histórico negativo de pagamentos e negociações;
  • Queda da pontuação no Serasa Score.

O mais indicado é você não se apegar ao "caducar da dívida" e buscar a negociação da inadimplência para que, além dos birôs de crédito, ela também seja eliminada do SCR.

Com informações: Serasa