A notícia recente da quebra do banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), surpreendeu muitas pessoas em todo o mundo, especialmente porque esse era o principal banco para startups de tecnologia dos EUA e porque essa é a maior instituição financeira dos EUA a quebrar desde a crise financeira de 2008.

A notícia veio à tona no fim da última semana e agora o banco está sob controle de reguladores federais como a Agencia Federal de Garantia de Depósitos (FDIC). O próprio governo norte-americano já se manifestou dizendo que não há a intenção de resgatar a instituição financeira, mas que os cuidados necessários para evitar o contágio financeiro, estão sendo tomados.

A fala foi da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, neste domingo, dia 12: "Queremos garantir que os problemas que existem em um banco não criem um contágio para outros que são sólidos", disse Yellen durante uma entrevista ao canal CBS.

Créditos: Divulgação/Nubank
Créditos: Divulgação/Nubank

E é justamente o medo desse contágio que fez com que muitas pessoas se preocupassem com instituições financeiras brasileiras, como o Nubank. Não é de hoje que existe uma atenção extra voltada para as finanças do banco digital e esse acontecimento serviu para alertar ainda mais as pessoas. Entenda.

O que isso tem à ver com o Nubank?

O fato de esse ser um banco famoso que financiava muitas startups de tecnologia causou uma certa preocupação nos investidores. Primeiro porque alguns bancos norte-americanos como o First Republic Bank da Califórnia e o Signature Bank logo sofreram consequências porque tinham relações com o SVB.

O primeiro registrou queda de quase 30% no preço de seus papeis, nas sessões de quinta-feira e sexta-feira, e o segundo, exposto às criptomoedas, perdeu um terço de seu valor desde a noite de quarta-feira passada.

Assim, a preocupação se extende cada vez mais para outros bancos, especialmente os digitais, as startup, como o Nubank, que se popularizou muito nos últimos anos e que tem muitos investidores, mas ainda mais clientes especialmente no Brasil.

Acreditou-se num primeiro momento que os bancos poderiam ter alguma relação também, no entanto, o Nubank informou em nota oficial publicada nesse domingo, dia 12, não ter "qualquer exposição" ao Silicon Valley Bank (SVB):

"A Nu Holdings Ltd. comunica aos seus acionistas e ao mercado que nem a Companhia nem nenhuma de suas subsidiárias têm qualquer exposição ao Silicon Valley Bank".

Segundo apurações feitas pelo jornal paulista Estadão, algumas startups brasileiras possuíam reservas no SVB, porém, elas teriam começado a se movimentar ainda na quinta-feira, 9 de março, antes da falência oficial, para tentar retirar o dinheiro do banco norte-americano. O valor total seria de US$ 3 bilhões, segundo a Trace Finance, startup cuja plataforma permite a outras startups movimentar recursos nos Estados Unidos.

Nubank deu sustos recentemente

Mas além da preocupação a respeito das relações e exposição ao SVB, também veio à tona um acontecimento que já havia acendido o alerta para clientes e acionistas do Nubank recentemente.

No início de março a cofundadora e CEO do Nubank no Brasil, Cristina Junqueira, vendeu ações do banco digital. Ela alienou 590 mil papéis. Considerando a cotação da ação no dia, que era de US$ 4,60, a venda teria movimentado cerca de R$ 14,1 milhões.

Em nota oficial, o Nubank confirmou essa venda de ações mas declarou que ela representa menos 0,5% do total de ações que Junqueira possui do banco e que isso aconteceu exclusivamente por motivos de gestão pessoal de patrimônio e liquidez.

Além disso, o banco destacou que mesmo após essa venda, Junqueira permanece como uma das principais acionistas do Nubank, tendo cerca de 2,73% do capital do banco digital, o equivalente a US$ 590 milhões, em média.

Ainda assim, muitas pessoas se questionam: será que o banco vai bem? Será que existe a possibilidade de quebra? Segundo os especialistas, a melhor forma de saber se um banco ou uma empresa vão bem é acessando as informações diretamente na fonte.

Será que meu banco vai bem?

Por isso os relatórios trimestrais e anuais são tão importantes. O problema é que a linguagem nem sempre é fácil e os relatórios costumam ter dezenas, quando não centenas de páginas, o que afasta muitas pessoas, mesmo investidores qualificados, de sua leitura.

No entanto, é nos detalhes das tabelas e dos valores informados que estão, muitas vezes, as informações mais importantes. No Twitter, uma publicação feita pelo economista e investidor João Marcos (@joaomviso) destacou justamente isso:

Segundo João, desde o dia 24 de fevereiro de 2023, era possível saber que a situação do SVB era muito séria e perigosa porque no relatório anual pulicado nessa data havia alguns dados que chamavam muita atenção.

Ele destaca uma grande diferença - de cerca de US$ 15 bilhões - entre o valor "oficial" e o valor real dos investimentos feitos pelo banco. Essa diferença está prevista nas regras contábeis norte-americanas, porque os bancos podem registrar os investimentos a preço de custo, mesmo que o valor real seja diferente.

E considerando essas diferenças apresentadas já se poderia prever que o banco estava com um patrimônio abaixo do necessário para seguir funcionando plenamente.

Diante desse acontecimento, clientes mais atentos começaram a retirar dinheiro. A maioria era de fundos que investiam em startups. As notícias logo correram e os saques aumentaram causando uma corrida bancária. O fim da história já sabemos: o banco quebrou oficialmente no último fim de semana.

E o Nubank vai quebrar?

O Nubank divulgou seus resultados trimestrais no dia 14 de fevereiro, apresentando um lucro líquido de US$ 58 milhões no quarto trimestre de 2022 (4T22), segundo resultado positivo consecutivo e revertendo o prejuízo de US$ 66,3 milhões do mesmo período de 2021.

Isso foi considerado muito positivo. Inclusive porque algumas projeções feitas por especialistas apontavam para a possibilidade de um prejuízo líquido na faixa dos US$ 28,4 milhões. O que não aconteceu.

Em termos ajustados, o lucro totalizou US$ 113,8 milhões, alta de 3.456% ante lucro de US$ 3,2 milhões registrados em igual período de 2021.

As operações brasileiras do Nubank também registraram um lucro líquido ajustado de U$ 157,7 milhões, com retorno patrimônio líquido anualizado (ROE) de 35%.

Além disso, a carteira total de clientes cresceu 62% na comparação anual, passando para US$ 11,3 bilhões, sendo US$ 9,3 bilhões em cartão de crédito e US$ 2 bilhões em empréstimos pessoais. O total de clientes chegou a 74,6 milhões, alta de 38% em relação ao quarto trimestre de 2021.

E um dado sempre importante de se observar no Nubank é o da inadimplência, já que o banco libera cartões mesmo para aqueles que não tem alta renda. E no fim de 2022 a inadimplência de mais de 90 dias teve uma alta de 0,4 ponto percentual, para 5,2%. Já a de curto prazo (de 15 a 90 dias), por sua vez, caiu de 4,2% para 3,7%.

No campo das expectativas para 2023, os executivos do banco preveem um ano de bom retorno sobre patrimônio. Acreditam também que México e Colômbia têm potencial para atingir a mesma rentabilidade que o Brasil em poucos anos.