O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou nesta terça-feira (27) a ata da última reunião realizada na semana passada que decidiu manter a SELIC em 13,75%. No comunicado, o BC acena com a possibilidade de redução dos juros básicos da economia no início de agosto, mas ainda aguarda uma continuidade da queda da inflação e seu impacto nas expectativas do mercado do próximo mês de Julho.

A mais recente reunião da semana passada teve a taxa Selic mantida em 13,75% ao ano, mantendo o patamar mais elevado dos últimos seis anos e meio. A primeira queda, caso aconteça, deve ser pequena, de 0,25%.

Segundo o Banco Central, a análise predominante entre os membros do Copom indica que a trajetória de queda da inflação em curso, aliada ao seu impacto nas expectativas, pode gerar a confiança necessária para iniciar o processo gradual de redução. Hoje, a meta da inflação é de 3%, com margem de até 4,5%. Na semana passada, os economistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de inflação deste ano, de 5,12% para 5,06%, ou seja, ainda acima da meta.

Lula indignado

Nas redes sociais, o presidente Lula disse nessa terça-feira (27) não entender porque a taxa ainda segue nesse nível e esperava uma resposta mais rápida do BC, com o primeiro corte já no mês de junho:

"Como uma pessoa que ganha R$ 2 mil, que pega R$ 1 mil no consignado, está pegando crédito a 30% ao ano, enquanto se empresta dinheiro aos grandes por 18% ao ano, e no Plano Safra, estamos fazendo 10% ao ano. E ainda é caro, porque a Selic está 13,75%. Vou conversar com o Haddad sobre isso", disse.

No entanto, o Banco Central mencionou que alguns membros do Copom, embora em menor número, adotaram uma postura mais cautelosa. Esses membros ressaltaram que a diminuição da inflação ainda é influenciada pela redução de componentes mais instáveis e que a incerteza em relação à capacidade de crescimento econômico sem gerar nova onda de inflação, o que seria terrível.

Esse grupo acredita que é necessário observar uma maior ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, bem como acumular mais evidências de desinflação nos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico, além da aprovação do novo arcabouço fiscal do governo na Câmara e no Senado.

Fatores para conter a inflação

O Banco Central informou que todos os membros do Copom concordaram de forma unânime que a redução da taxa de juros depende dos fatores de:

  • Evolução da queda inflacionária, ou seja, o comportamento dos próximos resultados do IPCA;
  • Expectativas de inflação, principalmente as projeções de longo prazo do mercado;
  • Hiato do produto, que refere-se à capacidade de crescimento da economia (produção) sem gerar inflação (consumo alto);
  • Balanço de riscos, ou seja, os indicadores que mostram possíveis cenários de inflação futura mais alta ou mais baixa.

O Copom também avaliou que cortes prematuros da taxa Selic podem resultar em reaceleração do processo inflacionário. Essa eventual reversão do processo de flexibilização monetária pode ter um impacto negativo não apenas na credibilidade da política monetária, mas também nas condições financeiras de forma geral.

O Banco Central ressaltou a importância de monitorar atentamente esses cenários, a fim de evitar impactos adversos na economia. As decisões relacionadas à política monetária devem ser embasadas em análises cuidadosas e consideração dos diversos fatores que afetam a inflação e a estabilidade econômica do país.

Mercado vê possível corte de juros em agosto

Até o momento, a expectativa do mercado é de que os juros comecem a diminuir em agosto, com um corte modesto de 0,25%, chegando a 13,50%. Para o final deste ano, a previsão é de que a taxa Selic caia até 12,25%.

O comunicado divulgado pelo Banco Central após a reunião do Copom na semana passada não indicava que o processo de redução dos juros poderia ter início no início de agosto.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou o documento na semana passada, considerando-o "muito ruim" e afirmando que ele não "alivia a situação".

Para definir a taxa básica de juros e controlar o aumento dos preços, o Banco Central olha para o futuro no sistema de metas de inflação. Neste momento, a instituição já está focada na meta do próximo ano. Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic levam de seis a 18 meses para ter um impacto pleno na economia.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) prevê uma inflação na casa dos 5% para este ano e de 3,98% para 2024.