O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a tecer críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nessa quinta-feira, 22 de junho. A fala do ministro se deu após a decisão tomada pelo BC na noite dessa quarta-feira, dia 21.

Após a realização da 4ª reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC anunciou a manutenção da Taxa Selic - que é a taxa básica de juros da economia brasileira - em 13,75% ao ano. Desde o início do governo atual, em janeiro, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Haddad, vêm criticando as decisões de Campos Neto.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto,e Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Créditos: Lula Marques/Agência Brasil

"Há descompasso entre o que está acontecendo com Brasil, dólar, curva de juros, atividade econômica. Há um claro sinal de que poderíamos sinalizar um corte na taxa de Selic, a mais alta do mundo. Não dá para deixar de mencionar, porque vai impactar o fiscal", disse Haddad.

A declaração foi feita a jornalistas em Paris, onde o ministro está junto com Lula, em viagem oficial.

Selic é mantida em 13,75%

A decisão do Copom em relação a manutenção da Taxa Selic em 13,75% ao ano aconteceu no início da noite de ontem, junto com um breve relatório da reunião, que iniciou ainda na terça-feira, dia 20.

No documento, o comitê que é formado pelos diretores do Banco Central e pelo presidente Campos Neto, destacou que apesar das melhorias que pode-se ver no cenário econômica do país, o momento ainda é de "cautela e parcimônia".

O colegiado afirmou que sua intenção é conduzir "a política monetária necessária para o cumprimento das metas", sinalizando que a manutenção da Selic por um período prolongado "tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação".

A Selic está nesse patar de 13,75% desde agosto de 2022 e essa é a sétima manutenção consecutiva desse valor. Antes disso, durante cerca de 2 anos, a Selic foi sendo elevada gradualmente numa tentativa de conter a inflação que chegou a ultrapassar os 10% em 2021.

Atualmente a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 3,94%, conforme dados do IBGE, ou seja, ela caiu significativamente nos últimos meses e começa a voltar ao patamar em que estava antes da pandemia.

- A nota divulgada pelo Copom e pelo Banco Central pode ser conferida na íntegra, clicando aqui.

Lula também tece críticas

Ao longo do dia, o presidente Lula também fez comentário a rspeito da decisão do Copom e do Banco Central, destacando mais uma vez que não concorda com esse patamar de juros.

"Não existe explicação aceitável para a taxa de juros a 13,75%, não temos inflação de demanda", disse Lula em entrevista coletiva.

Além disso, porém, Lula também ressaltou sua insatisfação em relação à atuação de Campos Neto e teceu críticas diretas a ele.

"Você utiliza os juros para controlar a inflação quando tem demanda muito grande e aumenta a taxa para diminuir o crédito e o consumo. Não temos isso no Brasil. Sinceramente, acho que esse cidadão está jogando contra os interesses da economia brasileira."

Questionado sobre esse desconforto que vêm se prolongando entre o governo e o BC, Lula disse ainda que "não se trata de o governo brigar com o Banco Central. Quem está brigando com o Banco Central é a sociedade brasileira. É irracional o que está acontecendo no Brasil, você ter uma taxa de 13,75% com uma inflação de 5%", disse.

O petista disse ainda que está cobrando dos senadores para que verifiquem se Campos Neto está cumprindo com a legislação apesar e em razão da autonomia do Banco Central.

Selic pode ser reduzida em agosto

No documento divulgado pelo Copom, o órgão destacou que

"O crescimento acima do esperado no primeiro trimestre refletiu principalmente o forte desempenho do setor agropecuário. Não obstante o arrefecimento recente dos índices de inflação cheia ao consumidor, antecipa-se uma elevação da inflação acumulada em doze meses ao longo do segundo semestre"

Portanto, as projeções de inflação do Copom atualmente situam-se em 5% em 2023 e 3,4% em 2024.

No entanto, uma mudança que chamou a atenção dos especialistas é que, pela primeira vez, foi retirado do documento a sinalização de que novos aumentos de juros podem acontecer.

Inclusive, algumas projeções prevêm que o Comitê pode fazer a primeira redução da taxa básica em agosto, em 0,25 ponto percentual (p.p.), possivelmente acelerando para um corte de 0,50 p.p. em setembro.

A próxima reunião acontecerá nos dias 1º e 2 de agosto.