Na última terça-feira (3), o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, trouxe à tona o assunto sobre a criação de uma moeda única do Mercosul. De acordo com Scioli, o tema foi discutido em um encontro em Brasília com Fernando Haddad, novo ministro da Fazenda.

Em 2022, o tema havia sido abordado pelo embaixador e pelo então secretário-executivo na Fazenda, Gabriel Galípolo, que defenderam, em um artigo, a criação de uma moeda sul-americana. Em sua outra passagem pela presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também falou sobre o assunto. Até mesmo o ex-ministro da Economia Paulo Guedes defendeu a proposta.

Mesmo a discussão existindo a mais de uma década, ela é um tanto complicada. No entanto, é possível avançar o assunto em alguns pontos, baseados através das declarações de Scioli e também no artigo escrito por Haddad e Galípolo em 2022.

O que mudaria com a criação da nova moeda do Mercosul?

Em primeiro momento, vale ressaltar que, com a criação de uma nova moeda que abrangesse os países do Mercosul, sendo eles Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, não ocasionaria uma única moeda do bloco.

De acordo com o embaixador argentino, cada país manteria sua moeda local. Já Haddad e Galípolo disseram que seria uma opção de cada nação.

No entanto, a moeda "significa uma unidade para a integração e o intercâmbio comercial em todo este bloco regional", disse Scioli. Para Haddad e Galípolo, a moeda poderia ser utilizada para fluxos comerciais e financeiros entre países da América do Sul. "A criação de uma moeda sul-americana é a estratégia para acelerar o processo de integração regional, constituindo um poderoso instrumento de coordenação política e econômica para os povos sul-americanos", escreveram.

Os atuais integrantes do governo Lula escreveram ano passado que a responsabilidade pela criação da moeda Mercosul seria de um banco central sul-americano. Além do mais, a moeda seria inspirada na URV (Unidade Real de Valor), na qual auxiliou na transição do Cruzeiro Real para o Real no ano de 1994.

O que o presidente Lula diz sobre o tema?

O presidente Lula ainda não comentou sobre o assunto, mas sabe-se que o mandatário é a favor da ideia. Em abril de 2022, quase um mês após a publicação do artigo do Haddad e Galípolo, Lula declarou: "Vamos voltar a restabelecer nossa relação com a América Latina. E se Deus quiser vamos criar uma moeda na América Latina, porque não tem esse negócio de ficar dependendo do dólar".

Em 2008, antes mesmo da quebra do banco americano Lehman Brothers, que detonou a crise global, em seu segundo mandato, Lula afirmou que, com a criação à época da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), a região estava se encaminhando para a criação de uma moeda comum e de um banco central único.

"Vamos caminhar para, no futuro, termos um banco central único, para termos moeda única." Na época, a Unasul tinha 12 países, porém, foi esvaziada nos últimos anos. O Brasil deixou o grupo em abril de 2019, no início do governo de Jair Bolsonaro.

O que o governo Bolsonaro pensava sobre a moeda Mercosul?

No ano de 2021, o ministro Paulo Guedes disse que o Mercosul deveria sim ter uma moeda única e que o assunto já havia sido tratado com integrantes do governo argentino. Na época, Guedes comparou o Brasil como se fosse a Alemanha do bloco, referindo-se ao poder da maior economia da zona do euro.

Vale lembrar que outros países também adotaram uma moeda única, como o caso da zona do euro, como é conhecido.

Agora em 2023, 20 países-membros da União Europeia adotaram a moeda única. Recentemente, a Croácia passou a usar a moeda, mas há outros casos. Na África, existe o franco CFA, compartilhado por 14 países, dentre eles estão Camarões e Senegal, mas com uma divisão entre nações da África Ocidental e da África Central. Em 2027, os países da África Ocidental deverão substituir o franco CFA por uma moeda que se chamará Eco. O Equador, por exemplo, adotou o dólar desde o início de 2000 de modo informal.