O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acabou de anunciar que vai manter a taxa básica de juros, a Selic em 13,75% ao ano por mais um tempo. O órgão, composto por diretores do BC, esteve reunido nessa terça e quarta-feira, dias 21 e 22.

Essa decisão foi tomada apesar às críticas constantes que vêm sendo feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por seus ministros, como o da Economia, Fernando Haddad. Segundo falas recentes do governo, a taxa vinha alta demais considerando o cenário econômico nacional atual e já deveria ter sido reduzida para que a economia nacional volte a se aquecer.

A Taxa Selic está nesse patamar de 13,75% desde agosto de 2022. Em sua fase mais baixa, em 2020, a Selic chegou a ser de 2% ao ano. De lá até agosto de 2022 foram 12 elevações consecutivas com o objetivo de contem a inflação que em 2021 chegou a ser de mais de 10% ao ano.

Créditos: Divulgação/Banco Central

Veja o que disse o Copom

O principal argumento utilizado pelo Copom é de que desde a reunião anterior do Comitê o ambiente externo se deteriorou.

"Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento. Em paralelo, dados recentes de atividade e inflação globais se mantêm resilientes e a política monetária nas economias centrais segue avançando em trajetória contracionista".

Em relação ao cenário doméstico, o comitê disse que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado.

"A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação".

Ainda assim, destacou-se que as expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus se elevaram desde a reunião anterior do Copom e encontram-se em torno de 6,0% e 4,1%, respectivamente.

O Comitê destacou ainda uma lista de fatores de risco para a inflação:

  1. uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
  2. a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública; e
  3. uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.

Por outro lado, entre os riscos de baixa, ressaltaram-se:

  1. uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
  2. uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e
  3. uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por isso,

"Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e, em grau maior, de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego."

Novo arcabouço fiscal

Uma das expectativas que há é em torno da aprovação de um novo arcabouço fiscal por parte do Governo Federal. O Copom vem temendo uma instabilidade fiscal porque o governo Lula tem como principal bandeira os programas sociais e o arcabouço fiscal em vigor até então limitava os gastos do governo a um teto máximo.

No entanto, o novo documento que já foi apresentado a várias autoridades políticas e que deve ser aprovado nos próximos dias, vai mudar esse cenário de forma que a base fiscal possa ser mais estável e que o governo consiga dar atenção aos programas sem estourar o teto - porque ele deixará de existir.

Acredita-se, assim, que o Copom poderá reduzir a Selic quando esse novo modelo for aprovado, o que deve acontecer em breve.

Qual a perspectiva para a Selic em 2023?

A perspectiva do mercado é de que até o final de 2023 a taxa Selic seja reduzida para 12,75% ao ano, ou seja, em 1 ponto percentual. Mas essa diminuição deve começar a acontecer mais para frente.

As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,95% e 4,11%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência elevaram-se para 5,8% em 2023 e para 3,6% em 2024.

Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,5% para 2023, 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para 2024.

Próximas reuniões

As reuniões do Copom acontecem a cada 45 dias mais ou menos, sempre nas terças e quartas-feiras e o próximo encontro está previsto para maio. Veja abaixo o calendário:

  • 31 de janeiro e 1º de fevereiro;
  • 21 e 22 de março;
  • 2 e 3 de maio;
  • 20 e 21 de junho;
  • 1º e 2 de agosto;
  • 19 e 20 de setembro;
  • 31 de outubro e 1º de novembro;
  • 12 e 13 de dezembro.

Últimos reajustes da taxa de juros

Últimos ajustes da Taxa Selic
Reunião do Copom SELIC - % a.a. Ajuste
1º/02/2023 13,75 0
07/12/2022 13,75 0
26/10/2022 13,75 0
21/09/2022 13,75 0
03/08/2022 13,75 + 0,50
15/06/2022 13,25 + 0,50
04/05/2022 12,75 + 1,00
16/03/2022 11,75 + 1,00
02/02/2022 10,75 +1,50
08/12/2021 9,25 +1,50
27/10/2021 7,75 +1,50
22/09/2021 6,25 + 1,00
04/08/2021 5,25 +1,00
16/06/2021 4,25 +0,75
05/05/2021 3,50 +0,75
17/03/2021 2,75 +0,75
20/01/2021 2,00 0
09/12/2020 2,00 0
Créditos: Banco Central/Poupar Dinheiro

O que é a Selic?

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é um sistema do mercado financeiro brasileiro administrado pelo Banco Central do Brasil (Bacen), que se destina à custódia dos títulos do Tesouro Nacional, bem como ao registro e à liquidação de operações com esses títulos.

Basicamente, a Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Como tal, ela impacta todos os demais juros do país, bem como as taxas de empréstimos, financiamentos e investimentos.

Como a Selic controla a inflação?

A resposta é mais simples do que pode parecer num primeiro momento: quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. O lado ruim é que desse modo as taxas mais altas podem dificultar a recuperação da economia.

Por outro lado, quando o Copom reduz a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Isso aconteceu ao longo de 2020 quando a Selic chegou a ser definida em 2% ao ano, patamar mais baixo de sua história desde o início da série histórica, em 1996.

Como a Selic afeta seu bolso?

A taxa de juros Selic é uma referência para todos demais juros da economia brasileira e por isso, seus reajustes podem oferecer impactos para todos nós. Há duas principais formas de nos impactar. São elas:

  • Empréstimos e financiamentos: com a Selic mais alta, eles ficam mais caros;
  • Aplicações financeiras: vários são os investimentos que têm relação com a Selic, direta ou indiretamente, incluindo a poupança e as contas que têm rendimento baseado no CDI.

No caso da poupança, sempre que a Selic está acima de 8,5% ao ano, seu rendimento é fixo em 6% ao ano + Taxa Referencial. Essa taxa referencial é impactada pela Selic também e varia diariamente.

E quando a Selic baixa de 8,5% ao ano, então o rendimento da poupança passa a ser de 70% da Selic.

Já as contas com rendimento de 100% do CDI são impactadas porque o CDI segue de perto a Selic. Quando a Selic estava em 13,75%, o rendimento do CDI era de 13,65% ao ano. Se a Selic é reduzida, o rendimento do CDI será reduzido na mesma medida.