O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, declarou nesta quinta-feira, 10 de agosto, que a instituição está analisando alternativas para conter a inadimplência nas transações realizadas com cartão de crédito rotativo (quando o cliente não paga o montante total da fatura e adia a dívida para o próximo mês).

De acordo com o Banco Central, a inadimplência no crédito atinge aproximadamente 52% das operações, um patamar sem precedentes em relação a outros países. Campos Neto destacou que uma possibilidade em avaliação seria a eliminação do sistema rotativo do cartão, o qual é ativado automaticamente sobre o saldo devedor.

Juros deve passar de 15% para 9%

Os juros associados a essa modalidade de crédito têm sido considerados excessivos pela instituição financeira.

  • Em junho, juros do rotativo do cartão atingiram a marca de 440% ao ano, representando a maior taxa dentro do mercado financeiro.
  • Segundo informações do Banco Central, esse índice equivale a uma taxa de juros mensal de 15%.

Adicionalmente, de acordo com Campos Neto, como alternativa ao sistema de rotativo, o Banco Central está estudando a implementação de um mecanismo diferente: os devedores seriam encaminhados diretamente para um programa de parcelamento com taxas de juros mais baixas, fixadas em torno de 9% ao mês - quase metade da taxa mensal de 15%.

"Nós estamos buscando uma solução, e essa solução está se encaminhando para a eliminação do sistema rotativo, fazendo com que o crédito seja direcionado diretamente para o parcelamento. A ideia é estabelecer uma taxa em torno de 9% a.m. Dessa forma, o sistema rotativo seria eliminado. Aqueles que não efetuam o pagamento integral do cartão seriam direcionados para um programa de parcelamento com taxa de cerca de 9% a.m.", declarou Campos Neto.

O BC destacou ainda que hoje os bancos oferecem financiamentos no crédito por meio do cartão de crédito, uma modalidade que não é comum em outros países, permitindo parcelamentos que podem se estender por até 13 prestações.

Ele esclareceu que não se trata de proibir tais parcelamentos sem juros, mas sim de incentivar uma abordagem mais disciplinada. Ressaltou ainda que essa medida não teria um impacto negativo no consumo.

  • Hoje, pagamentos em cartões de crédito correspondem a 40% do consumo no Brasil.

A alternativa de impor um limite nos juros aplicados no rotativo não é bem vista com bons olhos por Campos Neto, pois neste caso os bancos poderiam restringir o acesso a cartões de crédito para indivíduos considerados de maior risco, aqueles com probabilidade maior de não quitar o valor total da fatura, afetando ainda mais o consumo e o varejo.

Campos Neto revelou que a proposta do BC referente ao cartão de crédito rotativo será apresentada nas próximas semanas. Ele mencionou a existência de um projeto de lei associado ao programa Desenrola, que está destinado a renegociar dívidas de indivíduos inadimplentes, com um prazo de até 90 dias para ser divulgado.