Na última quarta-feira (18), o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou o aumento de 0,25 pontos-base da Taxa Selic. No entanto, a recente decisão de elevar a taxa básica de juros da economia para 10,75% ao ano gerou reações negativas por parte de políticos e setores produtivos. Para críticos, a medida compromete a recuperação econômica, ainda mais em um momento em que os Estados Unidos começaram a reduzir a taxa de juros.

Na rede social Bluesky, Gleisi Hoffmann, presidente do PT e deputada federal, ressaltou que a decisão do Copom é injustificável. "No dia em que os Estados Unidos cortam 0,5 ponto nos juros, o Banco Central do Brasil sobe a taxa para 10,75%. Isso prejudica a economia e vai custar mais R$ 15 bilhões na dívida pública, retirando recursos de áreas como educação e saúde", afirmou a parlamentar.

Veja a publicação:

No dia em que EUA cortam 0,5 ponto nos juros, tendência mundial, BC do Brasil sobe taxa para 10,75%. Além de prejudicar a economia, vai custar mais R$ 15 bi na dívida pública. Dinheiro que sai de educação, saúde, meio ambiente para os cofres da Faria Lima. Não temos inflação que justifique isso!

— Gleisi Hoffmann (@gleisi.bsky.social) September 18, 2024 at 6:52 PM

Reação do setor produtivo

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também manifestou insatisfação, considerando a decisão excessiva para o controle da inflação. Segundo a CNI, o aumento da Selic impõe novas restrições à atividade econômica, afetando negativamente emprego e renda. O presidente da entidade, Ricardo Alban, destacou que o Brasil está na contramão das economias desenvolvidas, que começam a reduzir suas taxas de juros.

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) classificou a medida como precipitada, afirmando que o atual cenário econômico ainda não justifica um aumento tão expressivo. Segundo a Firjan, a elevação dos juros impacta diretamente setores estratégicos, como a indústria, que já opera 15% abaixo do pico registrado em 2011.

A Associação Paulista de Supermercados (Apas) não demonstrou surpresa com a decisão, mas alertou para os efeitos negativos sobre o nível de atividade econômica. Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas, lembrou que o Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, o que torna difícil estimular investimentos e crescimento econômico sustentável.

Centrais sindicais também desaprovaram a medida. Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a alta dos juros impõe um fardo ainda maior ao governo e à população. Juvandia Moreira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), destacou que o Brasil figura entre os países com as maiores taxas reais de juros, o que impede o desenvolvimento do país.

A Força Sindical, por sua vez, acusou o Banco Central de favorecer especuladores. Segundo Miguel Torres, presidente da entidade, a alta dos juros penaliza os menos favorecidos e desestimula o consumo e o investimento, essenciais para o crescimento econômico.

Justificativa do Copom

Em comunicado, o Copom justificou o aumento da Selic pela resiliência da atividade econômica e a alta nas expectativas de inflação. Segundo o comitê, a medida visa controlar a demanda e manter a inflação dentro da meta, mas o texto não detalhou o futuro do ciclo de alta.

O impacto da elevação dos juros deve ser sentido no custo do crédito, que ficará mais caro, limitando o consumo e a produção. Enquanto o Banco Central projeta um crescimento de 2,3% para a economia em 2024, o mercado estima uma expansão maior, de 2,96%, segundo o boletim Focus.

O que muda com a alta da Taxa Selic?

A Selic, taxa básica de juros da economia, é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em agosto, o IPCA registrou queda de 0,02%, influenciada principalmente pela redução no preço da energia elétrica, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, essa diminuição é considerada temporária.

A partir de setembro, as tarifas de luz serão impactadas pela aplicação da bandeira tarifária vermelha, e a prolongada seca no país deve pressionar os preços dos alimentos. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumentou que o aumento nos preços dos alimentos, decorrente de choques de oferta, não deve ser combatido exclusivamente por meio de elevações na taxa de juros.

Atualmente, o IPCA acumula alta de 4,24% nos últimos 12 meses, um número próximo ao teto da meta de inflação para o ano. Para 2024, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu uma meta de inflação de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Isso significa que o IPCA não pode ultrapassar 4,5% nem ficar abaixo de 1,5%.

No último Relatório de Inflação, divulgado em junho, o Banco Central manteve a previsão de que a inflação termine 2024 em 4%. No entanto, essa estimativa pode ser ajustada devido à alta do dólar e à seca, que podem pressionar os preços. O próximo relatório será divulgado no final de setembro.

As projeções de mercado, divulgadas no boletim Focus, indicam que a inflação fechará o ano em 4,35%, perto do limite superior da meta. Há um mês, essa estimativa era de 4,22%.

Pela primeira vez, o comunicado do Copom trouxe previsões atualizadas do Banco Central para a inflação, indicando que o IPCA deve alcançar 4,3% em 2024, 3,7% em 2025, e 3,5% no acumulado de 12 meses até o fim do primeiro trimestre de 2026. O Banco Central trabalha com o conceito de "horizonte ampliado", projetando a inflação para até 18 meses à frente.