Os presidentes de Brasil e Argentina, Luiz Inácio Lula da Silva e Alberto Fernández, estão com planos ambiciosos para as economias locais em 2023. É dito isso, pois eles desejam criar uma moeda comum sul-americana, para realizar transações tanto comerciais quanto financeiras.

A partir disso, os dois assinaram um artigo no jornal argentino Perfil, com o anúncio da medida. De acordo com Lula e Fernández:

"Pretendemos quebrar as barreiras em nossas trocas, simplificar e modernizar as regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum que possa ser usada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa".

Abaixo, entenda qual é o objetivo da ideia, e o que pode acontecer com a moeda real brasileira.

Qual o objetivo de criar uma moeda única na América do Sul?

Em suma, o objetivo não é fazer os países deixarem de usar as suas próprias moedas. Na verdade, os presidentes desejam criar uma moeda comum para as transações comerciais entre eles. Dessa forma, eles não dependeriam do dólar para negociações locais.

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, também se mostrou favorável à medida e já quer ser incluído no bloco.

O projeto se inspira no euro, moeda oficial dos países-membro da União Europeia. A ideia não é de hoje - o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia defendido a ideia anteriormente.

Em 2022, o ministro da Fazenda Fernando Haddad e o seu secretário-executivo Gabriel Galípolo, afirmaram em um artigo, que o uso de uma moeda comum no comércio sul-americano pode estimular a integração na região, bem como fortalecer a soberania monetária dos países do continente.

Em maio, o Estadão mostrou que a moeda comum que Haddad e Galípolo defendem, pode ser usada para os fluxos comerciais e financeiros entre os mercados da região. Além disso, teria um câmbio flutuante entre as moedas dos países, que podem usá-la ou não.

Segundo o artigo, o objetivo dessa moeda é "acelerar o processo de integração regional, constituindo um poderoso instrumento de coordenação política e econômica para os povos sul-americanos".

Os especialistas não veem com bons olhos a criação dessa moeda em comum na América Latina. Mesmo que a adoção de uma política monetária unificada em diferentes países facilite o crescimento dos mercados, adotar essa alternativa é muito difícil. E a justificativa para isso, são as diferenças econômicas entre os países, como Brasil e Argentina.

O artigo publicado por Haddad e Galípolo, ganhou espaço em grandes jornais argentinos, como o Clarin. O mesmo aconteceu no britânico Financial Times. De acordo com o jornal, o movimento pode criar uma segunda maior moeda de um bloco econômico do mundo, seguindo o Euro na Europa.

Segundo o ministro da economia da Argentina, Sergio Massa, em entrevista ao Financial Times, deve ocorrer um estudo sobre os parâmetros necessário para tirar o projeto do papel. Entretanto, ele não nega que o caminho a percorrer será longo.

Por que criar uma moeda nova?

Atualmente, o dólar é a moeda de troca na maioria das operações financeiras e comerciais no mundo. Sendo assim, muitos bancos centrais no mundo contém parte da riqueza dos seus governos em dólares. É por isso que o dólar interfere na cotação das moedas nacionais: ele determina o poder econômico de cada país.

Há anos, existe uma discussão para acabar com a soberania do dólar como a principal moeda mundial. Justamente por isso, a China realiza tratados bilaterais com vários países, e as trocas comerciais são feitas em iuan.

E como diversos países da América Latina estão com dificuldade em realizar transações em dólar, criar uma moeda sul-americana poderia resolver o problema, bem como estimular os negócios entre estes países.

Por fim, vale ressaltar que a Argentina é o 3º país que mais comprou produtos brasileiros em 2022. No ano, o saldo da balança comercial ficou positiva em US$ 2,2 bilhões. Ou seja, houve um aumento de quase 30% em relação a 2021.

O real vai acabar?

Diante do anúncio do estudo da criação de uma nova moeda, surgiram muitos rumores sobre o fim do Real. Entretanto, não é isso que deve acontecer.

É dito isso, pois o objetivo não é criar uma espécie de "euro latino" por enquanto. E sim, uma moeda que facilite o comércio entre os países do bloco. Ou seja, o real e o peso argentino seguirão na economia dos seus respectivos países.