Senadores criticaram em Plenário, nesta terça-feira, 2 de maio, a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de determinar que big techs como Google, Meta (Facebook) e Spotify removam anúncios delas com ataques ao Projeto de Lei das Fake News que tramita no Congresso Nacional (PL 2.630/2020).
Além da retirada do posicionamento contrário ao PL das Fake News da internet, Moraes também ordenou que presidentes das empresas (Google, Meta, Spotify e Brasil Paralelo) prestem depoimento à Polícia Federal (PF), "para que esclareçam - entre outras questões que a autoridade policial entender necessárias - as razões de terem autorizado a utilização dos mecanismos narrados na presente decisão que podem, em tese, constituir abuso de poder econômico, bem como, eventualmente, caracterizar ilícita contribuição com a desinformação praticada pelas milícias digitais nas redes sociais".
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) considerou a medida uma interferência no processo legislativo, já que a proposta ainda está sendo discutida na Câmara dos Deputados.
O projeto, de autoria do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), está em discussão na Câmara há quase três anos e criou debates nesta terça-feira, 2 de maio, pelos deputados após ter confirmada sua votação. Mais tarde, por volta das 20h30, o presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu tirar da pauta o projeto de lei e cancelou a votação que ocorreria na terça, 2.
Moraes toma decisão sobre PL das Fake News
O PL das Fake News, se aprovado, vai criar a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet e estabelecer obrigações a serem seguidas por redes sociais, aplicativos de mensagens e ferramentas de busca em sinalização e até retirada (banimento) de contas (perfis) e conteúdos considerados criminosos.
Na decisão, o ministro do STF Alexandre de Moraes menciona estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que aponta que as plataformas têm feito anúncios contra o projeto de forma oculta e burlando seus próprios termos de uso.
O ministro questionou as empresas, conhecidas como big techs, sobre o possível favorecimento de conteúdos contrários ao projeto nas buscas. Veja abaixo partes dos comentários de Alexandre de Moraes:
"Liberdade de expressão não é liberdade de agressão!
(...)
Os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada não devem ter nem mais, nem menos responsabilidade do que os demais meios de mídia, comunicação e publicidade, principalmente, quando direcionam ou monetizam os dados, informações e notícias veiculadas em suas plataformas, auferindo receitas; pois AS REDES SOCIAIS NÃO SÃO TERRA SEM LEI! AS REDES SOCIAIS NÃO SÃO TERRA DE NINGUEM!"
Flávio Bolsonaro e Alessandro Vieira debatem
Ao criticar a decisão do ministro do STF, Flávio Bolsonaro disse considerar que é uma interferência no processo legislativo, já que o projeto que está sendo discutido ainda na Câmara dos Deputados. Ele afirmou que a decisão do STF "acaba com qualquer possibilidade de debate ou contraditório".
"E eu pergunto: isso aqui que é democracia?! Você impedir que uma empresa, uma pessoa se posicione sobre um projeto que está sendo discutido na Casa do povo? É isso aqui? Esse é o horizonte, é o norte, é o destino aonde todos nós queremos chegar, sobre a discussão de um projeto como esse?" questionou.
Por sua vez, Alessandro Vieira, que é autor do texto, afirmou que a decisão não foi contra a opinião das plataformas, e sim contra a manipulação de fluxo e uso de propaganda velada em benefício de uma ideia, no caso, contrária ao projeto de lei. Para ele, todos podem ter e manifestar sua opinião, mas não de forma oculta, como se fosse uma mera funcionalidade do buscador de notícias.
"Veja, a gente tem escutado ao longo das últimas semanas uma série enorme de críticas ao projeto de lei, mas nenhuma delas aponta dispositivo específico, apenas ilações, ameaça de censura, ameaça de controle do governo, quando o texto da lei deixa claro que isso é impossível. Chegaram ao extremo de desinformar o cidadão alegando que o projeto impediria a leitura e a divulgação da Bíblia. Pelo amor de Deus!", disse.
Debate repercute entre senadores
O líder da oposição, senador Rogerio Marinho (PL-RN), se disse preocupado com o desequilíbrio na discussão. Para ele, é legítimo que o ministro apresente sugestões, mas não que tome a decisão de ofício (por vontade própria), sem uma provocação e com base em um estudo da UFRJ.
"A Câmara está exercendo a sua prerrogativa. Apenas chamo a atenção sobre a questão do equilíbrio entre os Poderes, da necessidade de preservarmos o processo democrático. Essa questão aflige e atinge toda a sociedade brasileira, temos que ter muito cuidado ao nos debruçarmos sobre ela", disse Marinho.
Ao afirmar que "quem não deve não teme", o líder do PT, senador Fabiano Contarato (ES), disse que as grandes empresas estão se escondendo no "manto do anonimato" para mentira e ódio. Ele lembrou que várias partes do mundo estão fazendo o mesmo movimento para parar a prática de crimes ligados às fake news, e que o Brasil não pode se omitir.
"Nós vimos qual foi a prestação de serviços que muitos desses canais fizeram, difundindo, em plena pandemia, uma conduta negacionista, terraplanista, difundindo medicação sem nenhuma comprovação científica. Quantas pessoas foram mortas na pandemia da covid? E isso foi resultante da conduta difundida por esses canais, que têm ser regulados naquilo que é sua responsabilidade. Eles têm que ser responsabilizados civil, penal e administrativamente", disse.
Para o senador Jorge Seif (SC), que é vice-líder do PL, o que mais preocupa no projeto é a possibilidade de que o texto deixe em aberto de quem é a responsabilidade de decidir o que é e o que não é falso. Para ele, o que apavora os "cidadãos de bem" é a possibilidade de que se acabe com a manifestação de expressão.
"Está em aberto que o governo federal possa criar um órgão (não se sabe ainda se o Ministério das Comunicações, ou seja lá o que for), uma comissão, como um "conselhão", e aí todos nós estaremos sujeitos a um censor oficial", alertou.
O líder do PDT, senador Cid Gomes (CE), afirmou que a discussão, nesse caso específico, não trata do que é governo ou oposição, e sim da fiscalização daqueles que se escondem no anonimato para agredir e fazer apologia à violência.
Moraes deu prazo para retirada de anúncios contrários ao PL das Fake News
Nesta terça, o ministro Alexandre de Moraes deu prazo de uma hora para que as empresas Google, Meta (proprietária do Facebook e Instagram), Spotify e Brasil Paralelo removessem integralmente todos os anúncios, textos e informações veiculados, propagados e impulsionados a partir do blog oficial da Google com ataques ao PL 2.630/2020. Ele fixou multa de R$ 150 mil por hora de descumprimento por cada anúncio.
Além disso, o ministro deu prazo de cinco dias para que a Polícia Federal ouça os presidentes ou pessoas em cargos equivalentes nas quatro empresas, para que esclareçam, entre outras questões, as razões de terem autorizado a utilização dos mecanismos que podem, em tese, constituir abuso de poder econômico e caracterizar ilícita contribuição com a desinformação praticada pelas milícias digitais nas redes sociais.
O ministro também deu prazo de 48 horas para que as empresas apresentem relatórios circunstanciados sobre anúncios realizados e valores investidos, além de apontar e explicar os métodos e algoritmos de impulsionamento e induzimento à busca sobre "PL da Censura". No mesmo prazo, as quatro empresas devem informar as providências que tomam para prevenir, mitigar e retirar práticas ilícitas no âmbito de seus serviços e de combate à desinformação de conteúdos gerados por terceiros.
Com informações, Agência Senado e STF.
O que Moraes decidiu sobre o PL das Fake News?
Nesta terça-feira, 2 de maio, o Ministro do STF Alexandre de Moraes deu prazo de uma hora para que as empresas Google, Meta (dona do Facebook e Instagram), Spotify e Brasil Paralelo removessem todos os anúncios, textos e informações veiculados, propagados e impulsionados a partir do blog oficial da Google, com críticas ao PL das Fake News.
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