O presidente Jair Bolsonaro admitiu as chances de não cumprir com a promessa de reajuste salarial para os servidores públicos em 2022. Em entrevista ao SBT na última terça-feira, 7, Bolsonaro recuou e afirmou que não será possível conceder nem mesmo a correção de 5% anunciada em maio pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Lamento, pelo que tudo indica não será possível dar nenhum reajuste para os servidores no corrente ano. Mas já está na legislação nossa, a LOA [Lei Orçamentária Anual], etc., de que para o ano que vem teremos reajustes e reestruturações", afirmou o presidente.
Com a decisão, o governo desistiu de reservar os R$ 1,74 bilhão que seriam destinados a pagar uma parte do reajuste dos servidores do executivo, o que acarretou na redução do bloqueio nos gastos dos ministérios, que foi de R$ 8,2 bilhões para R$ 6,96 bilhões. "Mas já está na legislação nossa, a Lei Orçamentária Anual, de que para o ano que vem teremos reajustes e reestruturações", concluiu o presidente durante a entrevista.
O bloqueio anunciado no dia 6 de junho pelo ministro Guedes tem como objetivo conter os gastos do governo federal a fim de cumprir o teto de gastos. Segundo a pasta, a decisão sobre o reajuste dos servidores federais será tomada até o final de junho.
O reajuste salarial dos servidores federais chegou a ser confirmado pelo presidente Jair Bolsonaro ainda em abril. Na ocasião, o chefe do executivo comunicou que o aumento de cerca de 5% seria concedido na folha de pagamento do mês de junho.
Bolsonaro culpa outras categorias por demora no reajuste
O clima entre o governo federal e os sindicatos que defendem os servidores públicos já estava tumultuado desde a segunda-feira (30) quando o presidente da República culpou outras categorias de servidores que também demanda reajuste salarial pelo atraso na recomposição do salário de policiais rodoviários federais e agentes de segurança pública.
"E digo a vocês publicamente, PRF (servidores da Polícia Rodoviária Federal): o grande problema não é o nosso lado, são colegas, outros servidores, que não admitem reestruturar vocês sem dar aumento até abusivos para o outro lado", afirmou.
O pronunciamento feito em visita ao Ceará repercutiu de forma negativa entre os Sindicatos da Receita Federal e do Banco Central e influenciou na decisão de manter a greve dos servidores do BC.
"Os próprios servidores da Polícia Rodoviária [Federal] já vieram a público para dizer que a inflação impacta todos os servidores. Então, eles mesmo acham que todos merecem um reajuste", afirmou Fábio Faiad, presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal).
Servidores em greve
Em busca de colocar pressão e agilizar as discussões em torno do reajuste salarial, servidores de diversos órgãos federais decidiram pela paralisação das atividades. Na Controladoria-Geral da União (CGU) e na Secretaria do Tesouro Nacional (STN) a reivindicação dos servidores incluem o reajuste salarial de acordo com a inflação (27%), reestruturação de carreira e exigência de nível superior para ocupar o cargo nos dois órgãos.
A greve dos servidores do Banco Central, iniciada em 1º de abril, ainda segue sem prazo para terminar. Para agilizar as negociações, os servidores reduziram de 27% para 13,5% o reajuste salarial, a fim de concluir as discussões antes do dia 2 de julho, data que marca os últimos seis meses do mandato presidencial e, por tanto, período em que fica proibido o aumento de despesas do governo com pessoal.
A mobilização se somou à greve de cerca de dois meses realizada pelos servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os servidores retornaram aos atendimentos na última semana de maio, após acordo que prevê a elaboração de plano de trabalho voltado para a valorização da carreira e a criação de um comitê permanente para melhorias nos processos do órgão.
Com o retorno, os servidores se comprometeram a repor os dias não trabalhados para agilizar a análise de pedidos dos benefícios.
Reajuste foi promessa de campanha
Há pelo menos 4 anos que o presidente Jair Bolsonaro promete o reajuste no salário dos servidores federais. O tema foi uma das suas bandeiras utilizadas em 2018, quando ainda era candidato à presidência da República, e rendeu largo apoio das categorias policiais à sua eleição.
Agora, ao adiar mais uma vez a correção dos salários os servidores foram firmes ao criticar a postura do chefe do executivo. "Lamentável", declarou o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcus Firme. "Se isso vier a se concretizar, será uma grande decepção", acrescentou ele.
Mobilizados pela valorização da categoria, os agentes estão insatisfeitos com o rumo das discussões e com o não cumprimento das promessas feitas em campanha, o que pode respingar ainda nas chances de reeleição de Bolsonaro.
"Se não houver reajuste, sairemos do governo Bolsonaro recebendo um salário menor do que quando entramos. É a primeira vez que isso acontece com qualquer presidente desde que eu me entendo por gente", alegou o presidente da Fenapef.
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