Está previsto para ser divulgado nessa quarta-feira, 28 de junho, os primeiro dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a única pesquisa domiciliar que vai a todos os 5.570 municípios do país e seu objetivo é oferecer um retrato da população e das condições domiciliares do Brasil.

O Brasil costuma realizar o Censo Demográfico a cada dez anos. Portanto, ele estava previsto para ser realizado em 2020, mas a pesquisa teve que ser adiada por causa da pandemia de covid-19. Em 2021, no entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigou o governo a realizar o censo em 2022.

A coleta de dados iniciou no dia 1º de agosto do ano passado. A previsão inicial era de que o recenseamento seguisse até o mês de outubro, porém, as dificuldades para a contratação, o pagamento e a manutenção de recenseadores fizeram com que a pesquisa se estendesse inicialmente até fevereiro de 2023.

Ainda assim esse prazo precisou ser novamente extendido. A dificuldade de acesso à determinadas localidades e a resistência de algumas famílias, como aquelas que moram em condomínios de luxo de grandes capitais, a responderem o questionário do IBGE, fez com que a pesquisa seguisse até maio de 2023.

De lá para cá, porém, os dados levantados começaram a ser analisados e devem ser conhecidos em mais detalhes a partir dessa quarta-feira, dia 28.

Créditos: Divulgação/Agência Brasil/Tânia Rêgo
Créditos: Divulgação/Agência Brasil/Tânia Rêgo

O que será divulgado pelo IBGE?

Como a coleta de dados terminou no dia 28 de maio, ainda não serão divulgados todos os dados coletados. Isso será feito aos poucos, segundo o IBGE. O plano é chegar até o fim de dezembro com cerca de 80% a 90% do censo divulgados.

De uma forma geral, o que o censo mostra, são dados quantitativos e qualitativos sobre a população e suas condições de vida dentro de casa. A partir dessa pesquisa é possível saber, por exemplo, quantas pessoas vivem no Brasil, qual a renda média delas, sua escolaridade, acesso a serviços básicos como energia elétrica e água encanada, etc. Além disso, o levantamento também mostra a quantidade de crianças e de idosos, por exemplo.

Nesse último censo também foi realizada a Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios na operação de pré-coleta do Censo Demográfico que incluiu inovações referentes a características da vizinhança de cada domicílio.

Foram observadas 6 variáveis com destaque para aspectos relacionados à circulação e ao meio ambiente, especificamente:

  • capacidade de circulação e pavimentação da via;
  • iluminação pública;
  • infraestrutura viária;
  • mobilidade e acessibilidade urbana;
  • escoamento pluvial; e
  • arborização.

Qual a importância do Censo Demográfico?

Conhecer a realidade do Brasil é fundamental para que políticas públicas sejam pensadas a fim de dar atenção ao que precisa melhorar no país. Se o censo mostra, por exemplo, que a população brasileira está com um nível muito grande de desempregados, o governo poderá utilizar esses dados para promover estratégias de desenvolvimento do trabalho e geração de emprego e renda.

O censo também traz detalhes específicos de cada estado, cidade ou localidade. Assim, cada um desses governos pode trabalhar em cima disso para promover a políticas públicas mais adequadas, a partir do mapeamento das necessidades.

Prévias já foram divulgadas

Apesar de o censo não ter sido concluído em 2022, como era previsto, uma prévia, tendo como base as informações que foram coletadas até 25 de dezembro de 2022 foi divulgada pelo IBGE. São dois quadros e eles trazem as seguintes informações:

De acordo com esses dados, o Brasil conta hoje com um total de 207.750.291 milhões de habitantes. A população por região é a seguinte:

  • Norte: 17.834.762
  • Nordeste: 55.389.382
  • Sudeste: 87.348.223
  • Sul: 30.685.598
  • Centro-Oeste: 16.492.326

Dentre os estados, São Paulo continua sendo aquele com o maior número de habitantes: um total de 46.024.937 (milhões).

Censo 2022: mutirão foi necessário

Como dito mais acima, a realização do Censo 2022 enfrentou muitas dificuldades a começar pela falta de verba para a realização do Censo. E para que fosse possível a publicação dos dados ainda em junho de 2023, um mutirão teve que ser realizado nos primeiros meses desse ano.

A Agência Brasil, um dos canais oficiais de comunicação do Governo Federal, divulgou nessa semana uma matéria falando sobre essas principais dificuldades e sobre como foi esse mutirão.

Segundo o material publicado, ao longo dos últimos três meses, três operações especiais foram realizadas em parceria entre o IBGE e o Ministério do Planejamento. Esse trabalho incluiu, de última hora, 15,9 milhões de brasileiros no censo.

Na primeira das operações a busca foi alcançar brasileiros na Terra Indígena Yanomami, que nunca tinham sido recenseada. As outras procuraram reduzir a taxa de não resposta em dois ambientes opostos, mas com resistência a recenseadores: favelas e condomínios de luxo.

Saiba um pouco mais sobre cada uma delas.

Indígenas

Realizado em março, o recenseamento na Terra Indígena Yanomami incluiu 26.854 indígenas no censo, dos quais 16.560 em Roraima e 10.294 no Amazonas. O mutirão foi essencial para atualizar a população indígena no Brasil, estimada em 1,65 milhão de pessoas segundo balanço parcial apresentado em abril. O número completo só será divulgado em julho, quando o IBGE apresentará um balanço específico do Censo 2022 para a população indígena.

A operação na Terra Yanomami foi complexa, mas conseguiu, pela primeira vez na história, recensear 100% da etnia no território. Por envolver dificuldades de acesso a aldeias aonde só se chega de helicóptero, o mutirão foi coordenado por cinco ministérios e reuniu 110 servidores federais dos seguintes órgãos: Polícia Rodoviária Federal, que forneceu os helicópteros; Ministério da Defesa, que forneceu o combustível; guias do Ministério dos Povos Indígenas; servidores da Secretaria de Saúde Indígena da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai); além dos próprios recenseadores do IBGE.

Realizado de 7 a 30 de março, o mutirão foi necessário porque o recenseamento tradicional não conseguia chegar a todas as aldeias yanomami. Por causa das operações para retirar os garimpeiros e do remanejamento de helicópteros para as ações de resgate humanitário, o censo teve de reduzir o ritmo em fevereiro, quando cerca de apenas 50% da população do território havia sido contabilizada.

Favelas

Nas favelas, o censo esbarrava em outras dificuldades. Além da falta de segurança em alguns locais, muitos moradores não queriam abrir a porta para o recenseador porque tinham recebido falsas notícias de que teriam benefícios sociais cancelados. Outro problema, principalmente em áreas mais densas, era a falta de endereços nas comunidades. Muitas vezes, os recenseadores não tinham informação sobre novas moradias surgidas nos últimos anos, como puxadinhos e lajes num mesmo terreno.

"O que impedia a entrada dos recenseadores na favela era a falta de conexão dos recenseadores e do Poder Público com as pessoas que moram lá. Além disso, havia a falta de conscientização das pessoas por falta de uma explicação que alcançasse os moradores das favelas da importância do censo e de respostas sinceras e objetivas", analisa o Marcus Vinicius Athayde, diretor do Data Favela e da Central Única adas Favelas (Cufa), que auxiliou o IBGE no mutirão.

O mutirão começou no fim de março, com o lançamento de uma campanha na Favela de Heliópolis, em São Paulo, do qual participou a ministra do Planejamento, Simone Tebet. A operação ocorreu em 20 estados e registrou aglomerados subnormais (nomenclatura oficial do IBGE para favelas) em 666 municípios. O número de habitantes só será conhecido em agosto, quando o IBGE divulgará um recorte do Censo 2022 para as favelas.

Segundo Athayde, a Cufa ajudou primeiramente por meio de uma campanha chamada Favela no Mapa, que usou as lideranças estaduais da entidade para conscientizar os moradores de favelas da importância de responder ao censo. Em seguida, a Cufa recrutou moradores de favelas e lideranças locais para atuarem como recenseadores e colherem os dados das comunidades onde moram. Também houve mutirões de respostas em eventos comunitários.

"Responder ao censo traz benefícios de volta para o morador da favela, para seus vizinhos, para sua família, na medida em que o governo e as políticas públicas atuarão de forma mais adequada para essa população", destaca Athayde.

Condomínios

Por fim, o último flanco de resistência a recenseadores concentrava-se em condomínios de luxo, principalmente em três capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá. "Historicamente, a taxa de não resposta, que é o morador que não atende ao recenseador, fica em torno de 5%. Isso em todos os países que fazem censo. Nessas três cidades, a taxa estava em 20% em condomínios de alto padrão", conta Villaverde, do Ministério do Planejamento.

No Censo 2022, a média nacional de não respostas estava em 2,6% segundo balanço parcial divulgado em janeiro. No estado de São Paulo, alcançava 4,8%, principalmente por causa da recusa de moradores de condomínios de renda elevada.

Para contornar os problemas, o Ministério do Planejamento e o IBGE promoveram uma campanha maciça em redes sociais. Parte das inserções foi direcionada a sensibilizar porteiros, que obedecem a regras restritas para entrada de estranhos. Outra parte esclareceu que síndicos não têm o poder de proibir o morador de receber o IBGE. "Muitas pessoas queriam atender ao censo, mas não sabiam que o recenseador não tinha vindo porque o síndico vetava", recordou Villaverde. Também houve reportagens de quase 10 minutos em televisões locais sobre o tema.

Segundo o assessor especial do Planejamento, a mobilização foi um sucesso. "Em uma dessas três capitais, conseguimos reduzir a taxa de não resposta para menos de 5% em condomínios de alta renda", diz. A operação para os condomínios começou em 14 de abril e estendeu-se até 28 de maio, último dia de coleta de dados para o Censo 2022.

Com informações: Agência Brasil