Nesta quinta-feira (31), a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados recebeu representantes da classe docente para discutir uma proposta de isenção do pagamento de Imposto de Renda (IR) para os professores em todo o Brasil. O Projeto de Lei 165/22 segue nas comissões da Casa.

Os defensores da medida argumentam que a isenção seria uma forma de valorização da categoria, uma vez que, segundo o deputado Professor Reginaldo Veras (PV-DF), mais de 60% dos docentes recebem apenas o piso salarial de R$ 4.580,00.

Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep), destacou a importância do benefício especialmente para professores da rede privada. Ele explicou que, ao contrário dos profissionais da rede pública, esses professores não têm o piso garantido e muitas vezes trabalham em várias escolas para alcançar uma renda próxima ao piso. "O professor na rede privada compõe o salário com base na carga horária e em negociações coletivas. Muitas vezes precisa trabalhar em várias escolas, o que aumenta a carga tributária por diferentes fontes de pagamento," apontou Rodrigo.

Discussões sobre constitucionalidade

Armando Amorim Simões, diretor de programas da Secretaria de Articulação Intersetorial com os Sistemas de Ensino do Ministério da Educação (MEC), alertou que a proposta de isenção para uma categoria profissional pode ser considerada inconstitucional.

Ele ressaltou que a Constituição Federal não permite a concessão de benefícios tributários específicos por categoria, e explicou que o IR pago por servidores estaduais e municipais compõem parte da receita desses entes. "Uma lei federal promovendo essa isenção não seria permitida, pois contraria a Constituição," afirmou Simões.

Diante do impasse, o deputado Professor Reginaldo Veras propôs que seja feita uma mudança no texto constitucional para viabilizar a isenção. "Se aprovamos PECs para beneficiar grandes corporações, por que não ajudar aqueles que sustentam a educação?", questionou o deputado, apontando para a desigualdade no peso da tributação.

Projeto de Lei busca consenso

O Projeto de Lei 165/22, de autoria do deputado Rubens Otoni (PT-GO), que visa conceder a isenção, foi lembrado durante o debate. Otoni destacou que a proposta precisa ser amplamente discutida para alcançar um consenso com o Executivo, visando a criação de uma legislação que valorize efetivamente os professores. Ele defendeu que países que investem na educação de sua população colhem desenvolvimento e prosperidade econômica.

A deputada Professora Goreth (PDT-AP) compartilhou dados do Banco Mundial que evidenciam a importância da educação para o crescimento econômico: cada ano adicional de escolaridade pode aumentar o PIB de um país em até 10%.

No Brasil, segundo dados do MEC, há um déficit de aproximadamente 40 mil professores qualificados, um número que chega a 200 mil quando se consideram os educadores fora de suas áreas de formação.